Thursday, March 16, 2006

37

Às vezes eu me sinto como um cigarro aceso jogado fora na rua.

Não sei se alguém já reparou, só sei que todas as vezes que jogo um cigarro fora eu penso nisso.

Ele fica forte, bem vermelho e vai sumindo aos poucos.

Passam carros e o levam de um lugar para o outro e ele continua ali, aceso, inatingível, se consumindo de pouco a pouco.

A brasa acesa continua ali espiando pra mim como se me acusasse de me sentir igual à ela.

Mas passa um outro carro bem por cima do cigarro e o esmaga, apagando e esmagando a mim também.

Morro lentamente todas as vezes que vejo essa mesma cena.

Sou como um cigarro jogado fora: inútil.

1976

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